Notoriedade inquieta

Quer dispor ou despir, ser desregrado

O amor: titubeante ou resoluto.

Em sua essência vem de encontro ao fruto

Liberdade em se estar emaranhado.

Cofre de rico apreço é o peito teu

Em vida não faz mais que embalsamar-me.

E não me nega, em morte, o vulgo charme

Faz da resiliência um apogeu.

Ao meu cultivo, ou teu, resgata o néctar

Quisera haver nascido a flor-de-lis

Mas tudo é o fim, é o pó! E a dor não meço.

As linhas que o teu corpo ao meu conecta

Poder compreender: eu jamais quis

Sentir-se! Não é tempo de regresso.

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ANÁLISE DO AUTOR:

# Título:

A inquietude para se expressar e ser notado faz do eu lírico um carente de atenção, mas que não muito se importa se não a adquire depois de se revelar quase por inteiro.

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# Modo objetivo:

* Emprego de rimas ricas e raras, que seguem o padrão (ABBA/ABBA/CDE/CDE)

* Versos decassilábicos e heroicos (padrão de tonicidade enfatizada pelas sexta e décima sílabas de cada verso)

* Uso de hipérbatos

* Rejeição ao sentimentalismo

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# Modo subjetivo:

* 1ª estrofe:

O primeiro verso do soneto se inicia com a palavra "quer", que pode ser entendida como verbo ou conjunção. Deste modo, o termo "dispor ou despir" pode representar o desejo alternado por duas realizações (Ora dispor, ora despir), levando-se em consideração também o fator temporal dessas realizações. Porém, se a palavra "quer" for interpretada como um verbo, pode levar ao aparecimento de um possível sujeito cumpridor das ações de "dispor" e "despir". Ainda no primeiro verso, encontra-se novamente um jogo gramatical: a palavra "ser" caracteriza-se como substantivo (sujeito da oração anterior, para o caso de atribuição verbal à palavra "quer") ou verbo, que dará à palavra "desregrado" dupla interpretação. Procure identificar!

No segundo verso se nota o uso de antítese dentro do aposto de "amor".

* 2ª estrofe:

Há um jogo silábico enigmático no primeiro verso do parágrafo. Na sua continuação, nota-se mais uma antítese, mas que une os versos 2 e 3. No quarto verso há uma característica forte do parnasianismo: uso de palavras incomuns e com alto poder de embelezamento textual, ainda que o entendimento se comprometa em virtude disso.

* 3ª estrofe:

O autor se apoia no fracasso de um descuido próprio ou conjugal, o que acarreta um resultado inesperado e indesejado por si. Não faz questão de se sentir vitimizado, em vez disso, faz parecer que ignora e supera o erro.

* 4ª estrofe:

A palavra "linhas" pode representar um percurso, um ligamento, um elo físico ou imaginável. O eu lírico se faz irracional por desejo próprio. "Sentir-se" pode corresponder a "encontrar-se", "conhecer-se", etc. A partícula "se" pode soar (em recitação, por exemplo) como pronome reflexivo ou conjunção integrante de possibilidade, a depender da entonação de quem recita. O ato de ler o soneto (visualmente expresso) elimina completamente a ambiguidade.

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# Resenha positiva:

* Aliteração e assonância constantes.

* Compromisso com a maioria dos pilares do parnaso

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# Resenha negativa:

* Pouca coesão entre os versos

* Leve fuga ao tema inicial

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# Dedicatória:

Ao meu mais novo amigo Frederico Contarini, de Ouro Preto, que conhece e vive a arte. Com base nas suas sugestões de palavras pra se empregar no texto (NÉCTAR e LINHAS), desenvolvi-lhe o poema da melhor maneira que pude.

Obrigado pela atenção.

Renadson Augusto
Enviado por Renadson Augusto em 01/02/2016
Reeditado em 16/03/2019
Código do texto: T5530664
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