Identidade

No soturno e mais pútrido cenário,

onde enfim decompõe-se a carne e os ossos,

eu bem sei que não passo de destroços

que ninguém beija estando em relicário.

Como se guarda o inútil num armário,

fui mandado para esses torpes fossos,

mesmo ainda no vivaz sangue dos moços

que têm todo um porvir alegre e vário.

E este frio esqueleto que no mundo

manteve erguido o corpo — a minha fronte —

é a comida que a terra mais consome.

Mas na podre vileza desse imundo

lugar, meu brio faz que então desponte

a bela flor que guarda ainda o meu nome.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 19/02/2016
Reeditado em 23/06/2016
Código do texto: T5548318
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