O ósculo derradeiro

Como sol que se deita no crepúsculo,

espargindo uma rubra e fulgurante

faixa de luz, um beijo em teu arfante

corpo manifestava a ação de um músculo:

todo um rubor tomava a sua pele

como resposta ao doce e langue toque;

havia lá o intenso elã de um choque

que o frio e até o pavor por bem repele.

E ora longe de mim, que te era afeito,

longe n'alma, que o corpo no atro leito

final se estende aqui — ó lúgubre arte! —,

não mais um beijo aviva a ti, donzela;

e como a noite expulsa a luz tão bela,

quando parti, a morte foi beijar-te...

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 29/02/2016
Reeditado em 29/02/2016
Código do texto: T5559510
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