Desperdício

Desejar-te já não abranda o fogo.

Ergue-se insistente a lasciva chama.

Não há mais água que se roube à rama,

já é deserto o campo de meu jogo.

De nada vale qualquer novo esforço.

Se inda flameja o que nunca foi brasa.

Se inda é carne o que quisera osso.

Viceja inútil ante a cova rasa.

Se em meu sonho, eu permaneço vivo,

nos olhos teus, o meu olhar eu crivo.

Imagem que a realidade turva.

Quando a nublada manhã, acorda o dia,

aquieta em mim arroubos de ousadia.

E desperdiço lágrimas na chuva.

Fonseca da Rocha
Enviado por Fonseca da Rocha em 31/03/2016
Reeditado em 04/12/2016
Código do texto: T5590953
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