NOTÍVAGA

"Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme. Eu, somente eu, com minha dor enorme, os olhos ensanguento na vigília." (Augusto dos Anjos)

NOTÍVAGA

Meus olhos taciturnos - abrigo ideal -

Pra dor dilacerante que na noite escura

Reduz à poeira essa ínfima criatura

Torturando-me com requinte surreal

As minhas noites contém o fel da agonia

Ao arrastarem pelas horas o seu mal

Numa infindável ladainha funeral,

Na sanha cega de esconder a luz do dia

Dissipa-se o luar e, em mim, acorda o breu

Em tons funestos, imbuídos de martírio

Sinistramente com sintomas de delírio

Noites a, fio fico esperando que Morpheu

Dê o perpétuo descanso a esse corpo inerme

E eu, livor mortis, seja entregue à ação dos vermes

(Edna Frigato)