Julgamento a meu passado

Vem-me a imagem de um cão em seu lamento,

co'os pêlos que mantêm muito aderido

o pó que há vários tempos, é sabido,

na brisa acompanhou seu passo lento.

Estradas não há mais — tu ao relento

dormias, cão vadio —, e o torto olvido

dissipou o que foste. Corrompido,

o pó no pêlos é o teu pensamento.

Tenha eu faculdade de reter

tudo quanto vislumbro e tenho apreço

nas capilaridades da memória.

Pois quando o sol dos moços fenecer,

velhas recordações serão começo

do veredito meu à minha história.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 21/05/2016
Reeditado em 08/08/2016
Código do texto: T5642648
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