Intragável mesquinhez é a vida

Guarda, meu coração, os presentes instantes,

pois da glória fugaz que me acalenta o ego,

num beijo fugidio e leve, não garantes,

eu sei, conservação alguma. A ti entrego,

coração — não hesito! —, os temores constantes;

mas não queiras jamais descobri-los, que és cego.

E retém, aliás, idéias repugnantes,

cenas das quais me calo e os erros meus que nego.

Do que sem pejo algum daria a arder ao fogo

cuida bem firme, amigo, e das horas perdidas;

guarda o que fui, pois vence o fado sempre o jogo.

Não é um vão clamor ou prece descabida,

pois na cova, maldito, após seguir meu rogo,

hás de ficar ileso: é exígua a morte à vida...

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 16/06/2016
Reeditado em 23/08/2016
Código do texto: T5669644
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