SER ANTROPÓFAGO
Da carne, seja à carne então, meu desapego
Da carne, livre, deixe-me apenas olores,
arrepios, frisson que aí tiram o sossego.
Ainda querendo o afável provar de sabores
Da carne, que são sempre os sonhos e calores
pelos quais sem querer luto, busco, me apego.
Da carne, quero e não, só perfume de flores
pra depois suspirar de expurgar dessossego.
E sendo um antropófago o ser, dá agonia
de ver essas visões de amor dormir geladas,
porque sabe o sofrer dessa antropofilia.
Essas carnes desejam sempre ser amadas.
Por elas vem gemido e mais a fantasia
de viver toda a noite as orgias sonhadas.
(Vocabulário: Antropofilia = Amor aos homens, aos humanos)