A meus cuidados não confie um cão

A meus cuidados não confie um cão,

que mais baixo estou eu, bem mais abjeto.

À corrupção que aparta até o inseto

é onde há de descobrir meu coração,

alma de brisas, essa gruta sórdida.

Não espere de mim que sobrepuje

as idiossincrasias. Nada estruge

tanto quanto a tendência torpe e mórbida

da vantagem pessoal. Falsa empreitada

é viver: quem repara o sacrifício?

Quando é mais bela a vida que acabada?

O ouro que o mundo empresta, não cobice-o!

Por que há de acumulá-lo, alma eivada,

se lhe não extingüe a empáfia, o opróbrio, o vício?

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 31/08/2016
Reeditado em 31/08/2016
Código do texto: T5746309
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