A comitiva

I

Irrompe a aurora em rústica oferenda

e a divina canção sai do berrante

cortando pelo brando e azul distante,

para espertar a todos na vivenda.

Aos pinchos, um a um, em careta horrenda,

peões encilham com ação vibrante,

bravos corcéis para o marchar pujante

na condução do gado da fazenda.

Há nos currais inquietações e empurros...

Excita-se o rebanho em berros e urros,

numa algazarra assídua e coletiva.

Lá na cozinha o aroma prazenteiro

do café e do arroz-de-carreteiro,

“quebra o torto” e prepara a comitiva...

II

Sinuelos vão à frente da boiada,

em direção do pantanal extenso

agitando o capim e a água parada,

ao longe avistando o áureo astro suspenso.

E assim, vivo tapete, branco e imenso,

lastra-se e alveja a matinal jornada

entre os cerrados recendendo a incenso,

onde gorjeia em festa a passarada...

Nunca aos sentidos um singelo ruído

de cascos e mugidos sobre a terra,

foi tão doce ou sublime, ou mais querido.

E um fresco e penetrante odor descerra

do pó lançado pelo chão batido

e percorre todo o ar, do vale à serra...

Reginaldo Costa de Albuquerque
Enviado por Reginaldo Costa de Albuquerque em 11/10/2005
Reeditado em 04/04/2010
Código do texto: T58607