Soneto da Mulher Parida
Na agonizante dor que as carnes rasga,
Ela, fêmea, que outrora foi menina,
O oneroso preço da fêmea sina
Com lágrimas, bílis e sangue paga.
E eis que ele, saído de nuas entranhas,
Surge, faminto, a reclamar o afeto;
E grita, de sangue e vérnix coberto,
Déspota cruel, pela sua façanha!
Enquanto ao redor a vida celebram,
Niguém o silêncio dela perscruta;
E em seus braços um novo homem segura!
No seu esconderijo sonhos se elevam!
Ah! Pudera ela, senhora de si...
Ainda sangrando pudesse partir!