Soneto do mar e das pedras
O mar de encontro às pedras enraivece,
Não desiste e acomete tantas vezes.
Seu murmúrio nem sempre é uma prece,
Pode ser o troar da ira dos deuses.
Meu amor por você não arrefece:
Passam os dias, vão-se embora os meses,
E o desejo de tê-la também cresce,
Tal maré a zombar dos meus reveses.
Sou o mar, e você é uma rocha
Que resiste, jamais altera a sorte
E da minha insistência, atroz, debocha.
Assim como o mar, eu nunca desisto,
Pois talvez antes que me leve a morte,
O seu orgulho não seja mais visto.
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N. do A. – Na ilustração, Devaneio de Emile Vernon (França – 1872-1919).