A BELA E AS BESTAS

Deliciava-se ao se olhar no espelho

no alumbramento de saber-se bela;

batom e o lábio ainda mais vermelho

medrando fomes por um beijo dela.

E celebrava o bem de ser mulher

rodopiando a saia pela rua,

entregue ao vento, sem pudor qualquer,

assim criatura que na paz se alua.

Mas a execrável sociedade, a insana,

num ódio monstro ardendo a toda gana

com suas taras bestiais, internas...

apedrejou, baniu, da bela, a vida,

porque seu deus cruel a fez provida

de um desgraçado pau em meio às pernas.