Auto-retrato em Belo Horizonte

Sou um rapaz, mas já sem costeletas,

nesta Belo Horizonte sem idade.

As madrugadas são sempre insurrectas,

no purgatório ébrio da cidade.

Esta cidade me conhece há anos,

as avenidas só se cruzam em mim,

e entre cruéis cenários, tão urbanos,

a flor mais rubra cresce do Sem-Fim.

Ainda sei fazer poemas de amor

que se emaranham aos ferros retorcidos,

e o milagre faz brotar a flor,

ironizando os antros poluídos.

Sou um rapaz, caminho em meio ao bulício,

vou relembrando os tempos do meu bem,

as madrugadas no antigo Edifício

Maletta entre outros poetas também.

Tudo o que sei é que sou um rapaz

que ainda cultiva sonetos e amores.

Belo Horizonte de ferro se faz

e há aços vivos entre mortas flores.

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 08/04/2017
Código do texto: T5965471
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