Soneto Desiludido

Não sei quem me vê nem sei se existo,

À sombra irreal de ser alguma coisa

Além da mera sombra de ser isto,

Onde a anulação de tudo repousa.

Não sei em que substância consisto,

Ave vaga que em campo ignoto pousa.

Não sei se sou um ou se sou um misto

De algo que pensa com algo que não ousa.

Sei que na fantasia inútil e linda,

Onde suponho meu ser só por supô-lo,

Enquanto o que sou dorme na berlinda,

Gozo a vida, esse inútil ouro de tolo,

Vendo tudo passar na hora finda,

como ave bêbada que cai ao solo.

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 12/04/2017
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