MÃOS FRIAS

Tocava-me com seus dedos compridos,

Deveras longos, pálidos: horrendos;

Lentos, de cútis seca que, tremendo,

Faziam-me - e à todos -, livros lidos.

É isso! Todos nós estamos vendo,

Que, a cada toque deste corrompido...

Ser, pérfido, perverso e... e esquecido,

Vamos, a cada hora, apodrecendo.

E como os livros já lidos, distantes,

Empoeirados no alto das estantes,

Emboloramos nossa obsolescência.

Voltando-nos à argila, partiremos,

Ao fosso nobre, o último que temos,

Doando, àqueles dedos, a impotência.

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Muito honrado, acrescento a riquíssima interação do grande poeta Fernando Cunha Lima:

AS MÃOS DA LIBITINA

Que mãos tão frias estas que me tocam,

Ou pelo menos tentam me tocar,

Prevendo a hora de vir me buscar,

Com dedos frios, que mortes evocam.

Os toques frios, com que elas me tocam,

Deixam-me a pele se arrepiar,

Ao lutar sempre por querer ficar,

Enquanto meus pensares se deslocam.

Mudar de posição, por outros rumos,

Para depois voltar aos grossos humos,

Meu derradeiro fito em desatino.

E neste encontro final com a libitina,

Meu corpo veja ao que se destina,

No caminhar final do seu destino.

SEGUINDO A VERVE AUGUSTINIANA DO POETA FABIO REZENDE, COM O ÚNICO INTÚITO DE APLAUDÍ-LO. FERNANDO CUNHA LIMA. 05-08-2017.