LEGADO

Meu corpo inerte jaz em flores mortas,

jardim funéreo... de imprestável horta!

Outros corpos, estes ainda quentes,

se aglomeram à volta do eu ausente.

O sino estrila em meus ouvidos moucos.

Derradeira e vil noite de domingo.

Se aos desgostos, em vida, fora rouco...

A morte será o palco em que me vingo!

E meu legado? Filhos, obras, livros?

Fecham-se à tumba em que meu corpo crivo?

Por herança, guardo ressentimentos...

Plantado ao solo, brota do eu semente,

regado a lágrimas, safra insistente...

Incolores frutos do esquecimento.

*em interação ao magistral soneto INCOLOR do Poeta Carioca.

Fonseca da Rocha
Enviado por Fonseca da Rocha em 09/11/2017
Reeditado em 28/03/2022
Código do texto: T6166867
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