Soneto Cinza

Procuro pelas cores do meu dia;

nada encontro. Nada me satisfaz.

O relevo da tela me agonia...

Cansado, já sem graça, olho pra trás.

O cabelo desgrenhado me atrapalha.

Derrubo o meu pincel, falo ranzinza.

Acendo um fogo e queimo a velha palha.

Recuso as tintas... quero o próprio cinza.

Nada tenho, e nem quero mais que o pó

dos meus sapatos sujos e rodados,

vestígios de quem sempre viveu só.

Respiro fundo e tento novamente.

É vão, posto que meus olhos nublados

nada conseguem ver dali pra frente.