Soneto XVII - Vela-me, noite e dia, o coração
Vela-me, noite e dia, o coração
O amor como um cego sentinela
E a ninguém deixa entrar senão aquela
Que a fronte sua tem já posta ao chão.
E não somente dá-lhe a permissão
Mas tremendo ante a sua face bela
Entrega a áurea chave à posse dela
Que da alma abre o safaro portão
Oh amor fiel traidor dos iludidos
Como o sol entre o cristal mostrais agora
Quão fácil é enganar a quem confia
Vinte anos te entreguei os meus sentidos
E a vida, juntamente, de hora em hora
E vós me enganastes num só dia.