Soneto XVIII - Como naquela noite amargurada
Como naquela noite amargurada
N'água fria, em puro fogo ardendo,
*Leandro a sua vida ia perdendo
Por amar mais que a vida a sua amada
E usando já de força desusada
Contra a chuva, o vento, a onda e o mar horrendo
O ar lhe falta e vai desfalecendo
E morre pouco antes da alvorada.
Dest'arte contra a vaga furiosa
Deste incauto mar de sangue e pranto
Resisto quase além da humana dor.
Que para ver a tua face graciosa
Comovo a *Leandro e a *Hero e a tudo e tanto
E o mar, a morte, a vida e até o Amor.
*Leandro e Hero: Conto de amor da mitologia grega.