Soneto XXII - Se tão somente a face nívea e nova
Se tão somente a face nívea e nova
Que os olhos meus encharcam de brandura
E os transformam numa eterna fonte pura
Aonde o amor bebendo se renova
E o riso seu que é santa e justa prova
Que existem, sim, milagres lá na altura
E os lindos olhos, reis da formosura,
Os quais me tem por entre o Céu e a cova.
As noites minhas cheias de dor tanta
De comover 'té mesmo o rude inferno
Em sonhos soberanos me alcançassem
Pudera ser que a paz que a mágoa amanta
E a calma, antes posta, em sono eterno
Em um momento só ressuscitassem.