Soneto XXIV - Quando ouço-te falar tão docemente
Quando ouço-te falar tão docemente
Como um santo coro d'anjos tão perfeito,
Em mim começa um raro e estranho efeito
Nunca antes visto em ser vivente.
A alma adormecida, de repente,
Desperta e quer sair do humano peito
Deixando o coração a sós sujeito
Ao deus que'o aprisionara eternamente.
E pelos ares, vai, a cada instante
seguindo o doce som da tua voz
Louca, apaixonada e sem maneira
E achando, então, sua dona estonteante
Dela ouve em tom suave e atroz:
Por mim suspirarás a vida inteira!