Autobiografia / Suposto soneto à Fortaleza

Autobiografia

josé leite netto

no caminho certo das formigas sobre a pia

vou compondo meu universo de dezembro

enquanto meu irmão pede calma e assobia

uma canção que de tão triste já não lembro

minha mãe compõe caminhos e versos e fogo

e o meu céu fica por trás do ópio e da porta

através do inferno a vida fumaça de jogo

trinca de baralho ou lâmina que não corta

mas a festa está ao longe e se foi o carnaval

ânsia é só um abraço na minha filha de neve

na sala a casa é criança, gritos e festival

o ano passa e tudo mais a mais ficando leve

a rua um alpendre de desilusões e continuo

essa quase música que sem fim não concluo

Suposto soneto à Fortaleza

José Leite Netto

não quero deixar no mar nada do que sinto

nada entendimento de mim solidão e tempo

alegro-me por vezes entristeço e minto

qual ébrio sem vinho Baco talvez sem templo

mas ela velocidade cotidiana e pranto

lilás seu nome amor cidade mistério

Fortaleza oculta sob cem pedras e manto

onde se esmolam vinténs e cemitério

e dorme feito anjo sonho de mil desejos

o filho distante perto de Cícero foge da cruz

crucifixos e asfalto, lixo e gracejos

e querendo fé um sonho que nos conduz

ondula melodia verdes-mares e mar

onírica louca alma muitas por amar.

José Leite Netto
Enviado por José Leite Netto em 07/09/2007
Código do texto: T642460