RECADO

Decerto, gracejaste, se outra vez

Rendi-me ao que é real: não te esqueci,

Mas não foi por fraqueza que cedi,

O fiz com desassombro e altivez.

O gosto amargo que o mundo fez

Surgir na boca seca, dissolvi.

Não perdi o sabor, só aprendi

Em doce transformar a acidez .

Chorar, quem não o faz por amar tanto?

Porém do largo oceano de meu pranto,

Decifrei das espumas seu recado.

Contou-me o mar: de tudo estou abaixo,

Mas mesmo nas alturas, o riacho

Um dia há de correr para o meu lado.