Ainda vivo. (Em "O Céu e o Inferno").

A beleza da morte está na presença dos mortos.

Ainda vivos, e invisíveis, em nada estão ausentes.

Em fato certo, são tangentes e recém-libertos

Do corpo, o disfarce da alma, a prisão tenebrosa.

O vivo que confronta o morto (ou o oposto a isso) entrevista:

Vivo: Como é morrer e o que se dá na morte em si?

Morto: Extingue-se a vista e encontra, no vácuo, o ignoto;

Ainda vivo na ofuscante escuridão misteriosa.

Vivo: Depois do padecimento ainda em vida do corpo,

Qual a vossa tangível condição após a morte?

Morto: Ainda vivo e em situação bem lúcida e ditosa.

Vivo: Que efeito vos causa a ideia e o fato de, enterrado,

Jazer inerte seu corpo gélido e putrefeito?

Morto, ainda vivo: Gratidão à cela laboriosa.

Le Oliva
Enviado por Le Oliva em 28/12/2018
Código do texto: T6537366
Classificação de conteúdo: seguro