Líquido e Gás

Escorre, por entre os dedos, o tempo

Como água que flui pela peneira da vida.

São incontíveis, pois o impalpável nos liquida

E o líquido nos afoga e nos dá alento.

Alheios, liquefizemos a nossa existência

E deixamo-nos, pelas grades temporais

Escorrer disformes e distantes da essência

Que nos diferenciava dos outros animais.

Enquanto liquefeitos ainda há esperança

Posto que o líquido pode ser represado

O perigo é quando o gás for o nosso estado.

Volátil, silencioso, serpenteia numa dança

Que engana, sufoca e se perde no espaço

Sem rastros, sem tempo ao último abraço.

Cícero – 26-02-2019

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 04/03/2019
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