Corte raso

Pode tocar, deixar marcas na calçada que pisei,

Usar o meu corpo, abrir minhas coxas, acariciar,

Brincar em meu ventre liso, ir por onde já trilhei,

Ou fazer o novo, em um outro caminho de andar.

Pode ondular sobre a minha pele, molhar e secar,

Pode riscar a carne, beber, de mim, todo sangue,

Beijar, lamber, chupar toda a seiva e me drenar

Deixando-me ao pó dos tempos, inteira exangue.

Pode me possuir, torna-se meu dono, determinar,

Morder o seio, arranhar as costas, tornar-me uso,

Matar minha criança, fazer a mulher se ajoelhar;

Só em minha alma não permito, nem a pode tocar,

Todo o resto que puder faça, que não será abuso;

Assim poderá ir, se quiser, e não precisarei voltar.

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