Soneto Crepuscular
A tarde que agora cai tão lânguida e tão vermelha
Anuncia o que está por vir: noite calma...
Com inédito rubor, de dor o horizonte centelha -
Enquanto varre cada esquina vadia da minha alma.
Logo se faz acompanhar de sedosa cortina fina,
Que tristemente paira com suas névoas de água,
A gotejar espúrios respingos de chuva molhada e fria,
Escorrendo na rua vazia - inunda o meu palácio de mágoa.
Marcha lenta, com paciência e formosura únicas,
Essa noite de vileza, vandalismo e violação -
Fitando-me nos olhos, ela julga, censura e reprova.
Para experimentar a carne: busquei debaixo da túnica -
Para me embebedar de amor: busquei vosso coração -
Negou-me ambos... Mas ainda entrego flores à sua cova!