CLAVE DE SUL * Vento suão

Vem o vento suão da fornalha de Hefesto,

na Mãe África. Traz um rubor de artifícios

e uma mescla de anéis de ancestrais malefícios

que a bigorna forjou num desígnio funesto.

Traz os gritos que a dor arrancou da raiz

e morreram no mar do perpétuo desterro…

Traz a cruz que de novo agoniza no cerro

e calada, no horror sem perdão, tudo diz…

Traz o medo do incréu num juízo final,

onde o ser e o não-ser se debatem convulsos…

Traz o verbo na luz sem grilhetas nos pulsos

e a partilha do pão num sagrado ritual…

E eu aqui neste chão que foi berço e regaço

esperando por mim para o último abraço.

José-Augusto de Carvalho

29 de Junho de 2019.

Alentejo * Portugal

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 30/06/2019
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