Flor do Céu! (dueto com Bentinho)

Sabe Bento, nesses dias difíceis, a vontade de escrever escorre por entre os dedos, mas não cai no caderno. Sei que nossa alma fica exposta, na verdade quase escancarada para quem prestar mais atenção, e a menos que eu quisesse alguma esmola, como aquele pedinte famoso que colocava um bife mau cheiroso na perna, simulando uma chaga incurável que mereceria pena, a tristeza pela transformação do Brasil numa Nação, como se diria daquela festa de uma velha canção: "estranha com gente esquisita", não é minha praia nem é uma simulação, mas sim um sentimento forte que rasga minha alma, a deita no chão, cospe nela e pisoteia. Mas ouvindo da sua narração a parte em que no seminário tentas fazer um soneto e não sai do primeiro e último verso e no seu desalento, com desdém deixa em aberto para que num futuro incerto algum desocupado tente preenchê-lo, sinto na verdade uma quase conclamação, um desafio.

Sei que pensavas na sua Capitu, eu da minha parte pensarei num Brasil que deixei para trás, não sem antes espernear quase exaurido de forças. E pensando nos meus passos de ontem me pergunto se minha luta foi inglória por falta de oxigênio na subida dos meus anseios ou se a culpa foi a avalanche da ignorância e truculência que solaparam qualquer chance de vitória.

Oh! Flor do céu! Flor cândida e pura! (Bentinho-Machado de Assis–Dom Casmurro)

Que ousaste se vestir de minha utopia

Que vi transformada em travessura

Quão longe da realidade se abria

Mas abstrata, a ideia move o mundo

E muito do impossível é passado

Pensamento que me faz rubicundo

De oferecer a esperança como legado

Pois eu sempre lutei o bom combate

E nunca me veras jogar a toalha

Do amor, a certeza do resgate

Pois ele traz uma força que não falha

Me deixa firme a fé no desempate

Ganha-se a vida, perde-se a batalha!(Bentinho-Machado de Assis–Dom Casmurro)

Bento, sei que seu último verso tinha um sentido diferente, mas quem sou eu para discutir com minha inspiração, esta nobre que tem esparsado suas visitas com medo e pena que eu destile o veneno de que fui carregado? De qualquer forma sei que seus versos ainda estão disponíveis para o soneto perfeito e minha tentativa não haverá de fechar as portas para outro desocupado que os quiser. Quem sabe num futuro quando minha alma não esteja tão machucada eu consiga, num domingo ou outra situação qualquer, preenchê-lo com mais galhardia. De pronto fica minha tentativa. Não li o resto da sua narrativa, da minha parte espero alcançar o amor da minha Capitu.