TARDE SAUDADE

Burburinho. Ouve-se lá fora o vento outonal.

Cá dentro da sala respingos de chuva na janela

embaçam o vidro projetando uma imagem surreal

crepita o fogo na lareira tal qual lume de uma vela.

Encolhida na velha poltrona, uma manta nos joelhos

faço de conta estar absorta na leitura, enquanto divago...

solto as amarras das lembranças encarceradas nos espelhos,

sinto-me interpretar a heroína triste do filme: Doutor Jivago!

A memória prega peças, lapsos de tempo, soluços da eternidade.

Quedo-me ali na tarde regada pela chuva fina e fria de outono

a relembrar momentos felizes, tempos idos, acompanhada da saudade.

Recordações: o tempero eficaz que empresta sabor á vida.

Na janela os pingos da chuva fazem desenhos, são sonhos

ainda vivos como o brasido na lareira, cinzas remexidas.