Soneto do maior desencanto
"Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto..." Manuel Bandeira
O brilho que, na face, eu tive antigamente,
Perdeu-se, pouco a pouco, ao longo do caminho.
Ninguém bebeu comigo, à mesa, o amaro vinho,
Tampouco achei, no amor, meu par correspondente.
Maior porção da estrada, eu caminhei sozinho,
Andando em solidão mas junto a tanta gente.
Levei, por companhia, a dor cruel, pungente,
De ver, em vez de rosa, apenas rude espinho.
De face, assim sombria, encerro a caminhada.
Comigo trago, só, de dor, minh’alma cheia.
Meus sonhos, um por um, desfeitos pela estrada.
Até que a morte, enfim, me estenda o negro manto
E apague a tíbia luz que tênue bruxuleia,
Esperarei da vida apenas desencanto...