Soneto do maior desencanto

"Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto..." Manuel Bandeira


O brilho que, na face, eu tive antigamente,
Perdeu-se, pouco a pouco, ao longo do caminho.
Ninguém bebeu comigo, à mesa, o amaro vinho,
Tampouco achei, no amor, meu par correspondente.

Maior porção da estrada, eu caminhei sozinho,
Andando em solidão mas junto a tanta gente.
Levei, por companhia, a dor cruel, pungente,
De ver, em vez de rosa, apenas rude espinho.

De face, assim sombria, encerro a caminhada.
Comigo trago, só, de dor, minh’alma cheia.
Meus sonhos, um por um, desfeitos pela estrada.

Até que a morte, enfim, me estenda o negro manto
E apague a tíbia luz que tênue bruxuleia,
Esperarei da vida apenas desencanto...
 

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 12/03/2020
Reeditado em 02/02/2022
Código do texto: T6886384
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.