O MONJOLO, A BATEIA, O DOUTOR E A FOICE

Da janela, contempla o esquecido monjolo;

no cantinho, perdida, a surrada bateia.

Na lembrança que abriga o passado, o consolo

de que vida é melhor de tocar sem plateia.

Avistando o pomar, sente, às mãos, o tijolo

que, em menino, jogou, de malino, à colmeia...

Ai, Meu Deus! Ai, que ardor! Ai, que dor de ser tolo!

Com saudade, sorri da infeliz, sua ideia.

Ele, agora um doutor, faz, de orgulhos, a enxada;

sem destreza na lida a trotares e coice,

leva às solas dos pés a leveza esmagada.

Na cidade, a ilusão se apagou toda e foi-se

ao encontro do tudo, o disfarce do nada.

E a esperança se fez matagal sob a foice.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 20/03/2020
Código do texto: T6892410
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