Soneto de cacos
Estou grávida de luas minguantes,
Iluminada pelas noites mais negras.
Morro sentenciada pelos quadrantes
Que marcam as horas mais sôfregas.
Estou grávida de palavras mortas,
De medos vincados na face contrita;
Pela confissão sutil atrás da portas,
Que sufoca de silêncios a alma aflita.
Vou parir mil sonetos estilhaçados
Em cacos de versos desesperados;
Envoltos em muitas mágoas molhadas.
Vou expurgar prosas ensanguentadas,
De paixão e loucura habilmente cerzidas;
Até curar o ventre e o peito violados.