BATALHA DE RIMAS EM SONETOS

 
      Para proporcionar  a interação e incentivar a criatividade, estão sendo propostas várias atividades ao sonetistas que participam do fórum do soneto.
      A primeira tarefa foi compor um soneto, usando como rimas no quarteto as palavras  
BATEIA E MONJOLO  e nos tercetos, FOICE E ENXADA.
 
Participantes:
RICARDO CAMACHO – A LENDA
HELIOJSILVA   -  CONDIÇÃO PLEBEIA
FERNANDO BELINO  -  VELHAS LAVRAS E TUTAMEIA
MARCOS AURÉLIO - O MONJOLO, A BATEIA, O  DOUTOR E A FOICE
JOSÉ RODRIGUES FILHO  - COISAS DA ROÇA
 

 
A LENDA
 
Na luz do meio-dia, em odisseia,
Vagando no deserto, sem consolo,
No pampa abandonado o mor monjolo
Funciona numa usina, antiga ideia!
 
Tragado no calor de tal colmeia,
Naquela região de desconsolo,
O humano ser mistura-se num bolo
Temendo ser comido na bateia!
 
Ao longe um valhacouto, a suja enxada,
O ancinho; a pá deitada e em pé, a foice;
Dependurada a bota que, engraxada,
 
Ainda não serviu... Um velho foi-se
Para o "outro lado" sem levar mais nada;
Apenas na costela um forte coice!
                                           RICARDO CAMACHO
 
 
            CONDIÇÃO PLEBEIA
 
Pulula o pensamento numa ideia
Fixa, em linhas, esquadros e tijolo
Bate a saudade intensa do monjolo
No crivo causticante da bateia.
 
Difícil caminhada é odisseia...
Nos acontecimentos, sem consolo,
Sem comemoração, sem festa e bolo
Assim se espelha a condição plebeia.
 
Trabalho honroso, brava é a jornada
Cimento, suor, água, cal, enxada
Vida cruel, no coração um coice.
 
No que acreditar, ante ao quase nada?
Onde a esperança vê-se abandonada
Resiliência não existe, foi-se...
                                         HELIOJSILVA
 
       
              VELHAS LAVRAS

Já nem sabia como teve a ideia
De abandonar a casa de tijolo,
Roçado, criação, pomar, monjolo,
Levando apenas sonhos e bateia.
 
Lançou-se, sem temor numa epopeia
Por mais que alguns achassem fosse tolo.
Levou mulher e filho, por consolo.
No bolso, apenas tinha tutameia...
 
A sorte lhe aplicou terrível coice,
Levou-lhe todos bens. Ficou sem nada.
Total desilusão - golpe de foice.
 
Deixando, então,  bateia e velha enxada,
Chamou mulher e filho e embora foi-se
Daquela triste lavra abandonada.                                            
    FERNANDO BELINO
 
      
O MONJOLO, A BATEIA, O  DOUTOR E A FOICE
 
Da janela, contempla o esquecido monjolo;
No cantinho, perdida, a surrada bateia.
Na lembrança que abriga o passado, o consolo
De que vida é melhor de tocar sem plateia.
 
Avistando o pomar, sente, às mãos, o tijolo
Que, em menino, jogou, de malino, à colmeia...
Ai, meu deus! Ai, que ardor! Ai, que dor de ser tolo!
Com saudade, sorri da infeliz, sua ideia.
 
Ele, agora um doutor, faz, de orgulhos, a enxada;
Sem destreza na lida a trotares e coice,
Leva às solas dos pés a leveza esmagada.
 
Na cidade, a ilusão se apagou toda e foi-se
Ao encontro do tudo, o disfarce do nada.
E a esperança se fez matagal sob a foice.
                                            MARCO AURÉLIO (MARCO A)
 
 
COISAS DA ROÇA
 
O zangão é um folgado na colmeia
Procriar é deveras seu consolo
No final, poderá tomar um bolo
Da rainha, no seu voo para odisseia.
 
A lacraia é, de fato, centopeia;
O moinho movido à água é um monjolo;
Pedreiro, com a colher, senta tijolo;
Garimpeiros manejam a bateia.
 
No roçado, sempre uso minha enxada,
Mas na broca utilizo a velha foice
E a rede é para aquela relaxada.
 
Esta vida no campo é bem puxada:
Se não olha os equídeos leva um coice
Porém, nas sextas-feiras, tem peixada.
                      JOSÉ RODRIGUES FILHO   
 
 
          TUTAMEIA
 
Aos poucos, faz-se o milho em fina areia,
Farinha para o pão e para o bolo.
Ajunta-se qual ouro  na bateia, 
Na regular batida do monjolo.

As águas, cantilenas de consolo,
Embalam  sonhos bons de farta ceia.
Mas, rico, o  dono sempre  faz de tolo
Aquele que plantara a roça à meia.

Do pobre, a faina de ferir, a foice,
O  mato, após, vencido pela enxada.
De paga, recebendo quase um coice.

Foi dele, em solidão, toda a empreitada,
Mas, quase inteira, a safra,  ao dono, foi-se;
Ficando para o pobre quase nada!
           *considerando a pronúncia bateia(ê)
                                                         FERNANDO BELINO
Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 22/03/2020
Reeditado em 28/04/2020
Código do texto: T6894363
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