Menestréis do ódio

(A um louco)

“Vem, pois, poeta amargo da descrença,

Meu Lara vagabundo –

E c’o a taça na mão e o fel nos lábios

Zombaremos do mundo!”

(ÁLVARES DE AZEVEDO)

Tal como tu, noutros tempos eu cantaria

Sobre o bem que o mundo tem a ofertar,

Ansiando com júbilo compartilhar

Meus mais belos sonhos em forma de poesia.

Mas, vários anos decorridos, quem diria

Que o mesmo mundo haveria de envenenar

Nosso verso, forçando-nos a blasfemar

Contra os ideais que amamos um dia?

Tu já és velho, amigo, e encarquilhado;

E veja como ainda sou jovem e loução –

Mas da mesma taça que tu já hei tragado.

Ó irmão de fado, aperte minha mão!

Riremos um dia ao ver o mundo afogado

Pelas lavas do ódio em nosso coração!

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 25/03/2020
Código do texto: T6896960
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