Desamores

"Parece muito doce aquela cana.

Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!

O amor, poeta, é como a cana azeda,

A toda a boca que o não prova engana."

Augusto dos Anjos.

Tive que matar quem eu era outrora

Para esquecer amores do passado,

Joguei minha bondade para o lado

E a angústia os meus olhos devora.

Não acredito em mais ninguém agora.

Rejeito paixões, como um condenado

Que estando prestes a ser enforcado

Outro destino, louco, aos céus implora.

O que se ama no outro é a si mesmo.

Não se quer o bem do outro, afinal

E encaro todo amor com ceticismo.

Amar é, em resumo, irracional

Pois em si leva um paradoxismo:

Todo bem é, no fundo, um grande mal.

Vinicius Marques
Enviado por Vinicius Marques em 17/04/2020
Código do texto: T6920367
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