Concha abandonada
Um rígido fiscal, contra a corrente,
Remando, sempre em busca do passado,
A todos tenta impor, solenemente,
As regras de um rigor já desusado.
Renega a poesia, ora vigente,
Nostálgico de um tempo assoberbado.
Por mero preciosismo, incontinente,
Algema a Musa em verso burilado.
E, assim, ostenta, ufano, o seu talento,
Tão pródigo de brilho e maestria,
Na joia do mais fino acabamento.
E a peça, em filigrana, rebuscada.
Por fora, toda pompa e galhardia;
Por dentro, apenas concha abandonada.