Concha abandonada

Um rígido fiscal, contra a corrente,

Remando, sempre em busca do passado,

A todos tenta impor, solenemente,

As regras de um rigor já desusado.

Renega a poesia, ora vigente,

Nostálgico de um tempo assoberbado.

Por mero preciosismo, incontinente,

Algema a Musa em verso burilado.

E, assim, ostenta, ufano, o seu talento,

Tão pródigo de brilho e maestria,

Na joia do mais fino acabamento.

E a peça, em filigrana, rebuscada.

Por fora, toda pompa e galhardia;

Por dentro, apenas concha abandonada.

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 25/04/2020
Reeditado em 27/04/2020
Código do texto: T6928343
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