COROA DE SONETOS - PRODUÇÃO INDIVIDUAL

TEMA: INSPIRAÇÃO POÉTICA e REALIDADE SOCIAL
Lema: A poesia como instrumento de descrição e análise do mundo, numa perspectiva crítica.

Na coroa de sonetos há catorze sonetos interligados, onde o verso que fecha o primeiro começa o segundo, o que fecha o segundo começa o terceiro, e assim por diante, sendo o último verso do décimo quarto soneto o primeiro verso do primeiro soneto. E o décimo quinto soneto é a coroa, porque é composta dos versos que começaram os quatorze sonetos.
Considerando que a proposta é uma construção coletiva, precisamos seguir algumas regras básicas para garantir que haja uma unidade temática e formal entre os 14 sonetos. Para que isso aconteça, o soneto-base, a coroa, foi pensada numa lógica de organização que oriente o trabalho dos sonetistas
O tema geral é INSPIRAÇÃO POÉTICA e REALIDADE SOCIAL: a abordagem do tema será dividida em quatro partes distintas: primeira parte – do primeiro ao quinto verso, o poeta se põe a escrever sobre a realidade do mundo e depara com uma situação de dor, sofrimento e injustiça, disputas pelo poder e violência (tudo implícito nos versos) ; na segunda parte – do sexto ao oitavo verso vem a indignação do poeta e a suspensão do ato de criação; na terceira parte – primeiro terceto – o poeta observa o cenário composto pelos três elementos apresentados: o pescador, o pássaro e a mãe, representando, respectivamente, o trabalhador humilde, os encantos da natureza e a beleza do amor; na quarta parte – segundo terceto – o poeta retoma a escrita agora com grande inspiração e retrato nos versos o quadro que acabara de ver, redimensionando aquela cena como uma beleza universal.
Quanto à forma, os sonetos deverão ser compostos em decassílabos heroicos ou sáficos, com quatro ou cinco pares de rimas nos esquemas ABAB ABAB , ABAB BABA, ABBA ABBA ou ABBA BAAB, nos quartetos e CDC DCD, CCD EED, CDC EDE ou CDE CDE, nos
tercetos.
Primeira parte – O propósito do poeta de fazer um poema sobre a realidade do mundo em que vivemos e vê que o poema vai ficando muito sombrio.
SONETO I - SONETO II - SONETO III - SONETO IV
Segunda parte – Indignado com a realidade que descobre em seus versos – a aquarela lúgubre ele interrompe o trabalho e olha pela janela.
SONETO V - SONETO VI - SONETO VII –
Terceira parte – Apresenta o cenário que vê diante da janela – pescador, pássaro e mãe com o filho - detalhamento da vida dessas personagens com a apresentação de outros elementos relacionados a essa vida simples e bela.
SONETO VIII – SONETO IX - SONETO X - SONETO XI -
Quarta parte – Retoma a produção dos versos agora entusiasmado com o que acabara de
SONETO XII - SONETO XIII - SONETO XIV -
Final
SONETO XV - Coroa




SONETO I
Na folha em branco, sua mão procura
A inspiração para compor um canto
De desvendar da realidade o manto.
Patente, olhar, da vida, a face escura.

Num mundo injusto, que não tem mais cura,
Fazer poema é indignação e espanto
Por essa gente, desde muito e tanto,
Sem rumo, andando em plena desventura.

O pensamento, em aflição, agita.
Cruel cenário sua vista ofusca.
A folha em branco. A pena, então, hesita.

Reluta ao peso de um lavor sombrio,
De ser poeta na missão mais brusca:
Falar do mundo atroz, tão triste e frio.


SONETO II
Falar do mundo atroz, tão triste e frio
Mostrar o que acontece de verdade.
Na folha pondo a crua realidade,
Talvez, será um enorme desafio.

E fica cada vez mais arredio,
Um mal-estar que a sua mente invade.
Titubeante, já não tem vontade
De um verso assim criar de tal feitio.

Está ciente da real missão
Que recebeu no dom da poesia.
Embora saiba, nessa condição,

Fazer poema é um ato de bravura!
Retoma a lida e uma expressão vazia
A pena risca, em pálida textura.

SONETO III
A pena risca, em pálida textura,
E um sentimento atroz fere o poeta,
Que almeja ser bem mais, além de esteta,
Podendo expor de forma clara e pura.

No entanto, a vida faz-se torpe e dura,
No coração, lhe atinge aguda seta;
Levando-o a desistir quase da meta
De prosseguir no verso em urdidura.

Por todo lado, impera o sofrimento.
Na dor, vagando ao léu, em desvario,
Os pobres que lhe vêm ao pensamento.

De novo, tenta, audaz, o desafio,
Porém, esboça apenas, nesse intento,
Um verso tímido, sem cor, sombrio.


SONETO IV
Um verso tímido, sem cor, sombrio
Retrata um mundo triste, assustador,
Com tanta fome, frio e desamor...
Ao pobre, a vida é barco em mar bravio.

Vivendo o mais humilde, um desafio.
Trabalha duro , entrega-se ao labor,
Sem ter reconhecido o seu valor,
Ligado ao mundo apenas por um fio.

A dor que dói mais fundo na pobreza,
O injusto repartir - motivo dela -
Deixando escasso o pão do pobre à mesa.

Enquanto o rico mais se refestela,
Por entre os desvalidos, na incerteza,
O medo e a dor em lúgubre aquarela.

SONETO V
O medo e a dor em lúgubre aquarela,
Que estampa dessa gente a triste sina
De caminhar em prantos, peregrina,
No horror que a cada passo se revela.

Clamando ao Céu, que à vida frágil vela,
Cessar a ação do mal, sempre em rotina,
Porque somente a intervenção divina,
Acalmará na Terra a atroz procela.

Tomado o Vate em nítida emoção,
Na luta de ao seu verso dar sentido,
Aos poucos, vai chegando à conclusão.

O verbo deve estar comprometido
Em ser do fraco a voz! E sente, então,
De súbito, seu corpo estremecido.


SONETO VI
De súbito, seu corpo estremecido,
A Musa a lhe trazer à consciência,
De que o poema nasce em pura essência,
Na pequenez de um mundo impercebido.

Falar na dor de quem vive esquecido
E sofre humilhação e violência,
Requer um verso forte, em tal potência,
Regado a sangue e dor - canto sofrido.

Por outro lado, é sempre necessário
Cantar na dor (que seja!) a vida bela.
Por mais que apenas, frágil relicário,

Encanto e inspiração sempre revela.
Num átimo, ao buscar novo cenário,
Suspende a vista e vê pela janela.


SONETO VII
Suspende a vista e vê pela janela.
Ao sol da tarde, em busca do horizonte,
Em festa, a garotada junto à fonte
E um pai atento ao lado, em sentinela.

Em bando, as aves buscam logo aquela
Floresta acolhedora ao pé do monte.
Um barco desce o rio junto à ponte;
Dois jovens conversando em cima dela.

Uma explosão de vida em cada canto,
Suave, a tarde vem descendo um manto,
Atenuando a luz e o colorido.

Extasiado, em comoção mais plena,
No furta-cor da encantadora cena,
Um quadro se abre ao seu olhar perdido.

SONETO VIII
Um quadro se abre ao seu olhar perdido
Que fica, agora, no cenário, atento.
Na paz, que vem no sussurrar do vento,
A Musa canta suave ao seu ouvido.

Recorda a infância, tempo bom vivido,
Correndo livre, em paz todo momento.
De aventurar e de viver sedento;
O dia nunca por demais comprido!

E sempre à noite, na varanda em festa,
Histórias belas de princesa e mago
Família humilde, união que o amor atesta.

A vida mansa, o mais gentil afago
E ao fervilhar de cantos na floresta,
Um pescador, sentado junto ao lago.


SONETO IX
Um pescador, sentado junto ao lago.
A vara imóvel, espera paciente,
Sonhado peixe em prata reluzente,
Que, por enquanto, é pensamento vago.

E quando, enfim, tem seu esforço pago,
Recolhe a tralha e segue alegremente.
Caminha leve e a vida plena sente
Sorvendo o pôr-do-sol num longo trago.

O sol, sumindo por detrás da serra,
Febril jornada pelo céu encerra.
A tarde tinge, em rubro, o firmamento.

A noite mansa, a luz, no seio abriga.
Ao longe escuta lânguida cantiga:
Um pássaro, que espalha um canto ao vento.

SONETO X
Um pássaro, que espalha um canto ao vento,
Começa, na alvorada, um ritual;
Do belo e o puro, exemplo magistral.
Cantar é seu prazer, seu alimento.

A vida é breve e passa num momento
E cada ser que escolha o Bem ou o Mal,
Ficar na sombra ou ser brilho total.
No canto, a vida faz-se encantamento.

Cantar da natureza a majestade:
O dom de ser poeta e ser um mago,
Sentir da vida inédita, saudade.

O amor se mostra até num gesto vago.
O pássaro que canta, por vontade,
E a mãe que embala, o filho em doce afago.


SONETO XI
E a mãe que embala, o filho em doce afago...
O símbolo maior do amor sem fim,
Ninguém capaz será de amar assim,
Passando em mar revolto, ou manso lago.

Amor materno, eterno e nunca pago,
Gratuito e pleno, o mais perene sim.
Já sendo flor, escolhe ser jardim.
No coração, espaço sempre vago.

O vate deixa atônito a janela
E, à mesa, volta cheio de emoção.
A folha branca e a pena junto dela

E o apenas triste risco da canção.
Relembra alegre a esplêndida aquarela!
A Musa, enfim, lhe traz a inspiração.

SONETO XII
A Musa, enfim, lhe traz a inspiração,
Do verso ainda preso na garganta.
Não quis cantar ao ver tristeza tanta,
A vista embaralhada desde então.

Mas eis que agora aberto o coração
Consegue ver um bem que se agiganta
Na vida pura e simples, quase santa
Dos que, não tendo nada, alegres são.

Percebe, assim, que o ritual da vida
Se faz ao seu redor cada momento.
Não sendo, embora, a estrada colorida.

E basta, às coisas puras, ser atento
E pereceber que – enfim, missão cumprida! -
O verso ecoa em todo o firmamento


SONETO XIII
O verso ecoa em todo o firmamento
Congrega em todo Cosmo uma energia
Que espalha em toda parte essa alegria
De pleno ter, de paz, o pensamento.

Às almas tristes doce lenimento,
Da dor acumulada dia a dia,
O Menestrel que traz na poesia
O fim da dor, de todo sofrimento.

O mundo enfim tornando-se o lugar
Em que a bondade seja vocação.
Nenhum limite imposto ao verbo amar.

Ninguém sozinho em meio à multidão.
E o povo em firme passo a caminhar
Cantando paz, amor, libertação.



SONETO XIV
Cantando paz, amor, libertação.
Anúncio de uma vida em plenitude
De corpo e alma plenos de saúde.
Justiça sendo a luz de um povo irmão.

Que em mesa alguma falte amor e pão;
Que sempre impere a esplêndida atitude
De se pagar com o bem um gesto rude
E a toda ofensa dar total perdão.

Por todo lado, a meninada em bando,
Quintais afora, a dose mais segura
De quanto amar. A quem amar. E quando.

E o Vate encontra, enfim, a essência pura
Do canto que escrever, suave e brando,
Na folha em branco, sua mão procura.



COROA
Na folha em branco, sua mão procura,
Falar do mundo atroz, tão triste e frio.
A pena risca, em pálida textura,
Um verso tímido, sem cor, sombrio.

O medo e a dor em lúgubre aquarela.
De súbito, seu corpo estremecido,
Suspende a vista e vê pela janela.
Um quadro se abre ao seu olhar perdido

Um pescador, sentado junto ao lago,
Um pássaro, que espalha um canto ao vento
E a mãe que embala, o filho em doce afago.

A Musa, enfim, lhe traz a inspiração,
O verso ecoa em todo o firmamento,
Trazendo paz, amor, libertação.
Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 23/05/2020
Reeditado em 25/12/2020
Código do texto: T6956000
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