Nosso último beijo
Mirando a tarde que caia sobre meu desejo
Tornando púrpura a retina úmida e vacilante
Percebi no declínio do anoitecer um instante
A lenta decadência deste nosso último beijo.
Quiçá a luz do último prelúdio se levante
Iludindo a morte iminente que agora almejo
Inebriando meus sentidos num fugaz lampejo
Recebo tuas migalhas como um fiel amante.
O fado triste que fez de mim um ser maldito
Enclausurando sonhos em quartos inauditos
Inundou de mágoas meu coração de Tejo.
Minha miséria que aos poucos me consome
Só sacia agora este verme que tem fome
Na saliva amarga deste nosso último beijo.