Nosso último beijo

Mirando a tarde que caia sobre meu desejo

Tornando púrpura a retina úmida e vacilante

Percebi no declínio do anoitecer um instante

A lenta decadência deste nosso último beijo.

Quiçá a luz do último prelúdio se levante

Iludindo a morte iminente que agora almejo

Inebriando meus sentidos num fugaz lampejo

Recebo tuas migalhas como um fiel amante.

O fado triste que fez de mim um ser maldito

Enclausurando sonhos em quartos inauditos

Inundou de mágoas meu coração de Tejo.

Minha miséria que aos poucos me consome

Só sacia agora este verme que tem fome

Na saliva amarga deste nosso último beijo.

marcelo ferraz
Enviado por marcelo ferraz em 17/10/2007
Código do texto: T697910
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