A suprema lei
Edifiquei celas em plena mocidade
Lançando-me aos lobos da alcateia,
Fui operário mais raso da colmeia,
Fui manhã sem nenhuma claridade.
Apresentei-me em palcos sem plateia
De palmas mudas sem sonoridade,
Com requintes sórdidos de crueldade
Fui posto à margem e na boleia.
Sonhei com infinitos ao cair do dia
Saltando astros e sóis que me alumia
E acordei chorando, só e fatigado;
Mas foi numa lua qualquer em que pisei
Que Deus me revelou a suprema lei
Dos que já nascem nesta vida condenados.