Sonetos de amor e outros sonetos avulsos - decassílabos agalopados
Soneto de amor sereno
Poeta Felipe Amaral
Nos rubores finais do pôr-do-sol
Vejo um quadro de intérmina beleza.
A atmosfera praiana no arrebol
Acalanta em seu seio a lua acesa.
A maré, mais serena, move o anzol
Que ali bóia e a jangada, com leveza,
Um feliz pescador leva ao farol
Que orienta ao que vem na correnteza.
Meu amor se aconchega no meu peito.
Vai-se o dia e as estrelas dão o efeito
Cenográfico à paz que o ar encena.
Tudo é lindo como é lindo o semblante
Da sereia que inspira este marcante
Poemeto de essência pura e amena.
Soneto "Invocações de um Pândego"
Poeta Felipe Amaral
Ó amores, lançai vossos encantos
Sobre versos tais em que me aventuro!
Ó dulçores, cercai todos os cantos.
Preenchei meu viver de um prazer puro!
Escutai, ó paixões, o que procuro
Expressar entre anseios e quebrantos!
Consolai meu espírito imaturo.
Transmutai em sorrisos os meus prantos.
Alentai, ó quimeras, meus afetos.
Reerguei, utopias, meus projetos.
Insuflai, ilusões, a fantasia!
Sepultai os meus medos pueris.
Ó amores, brindai-me co'as febris
Libações do licor da boemia!
Soneto "Trabalhadores, uni-vos!"
Poeta Felipe Amaral
Eis um povo, na sua maioria,
Sempre imerso em vulnerabilidade.
Quem constrói essa hostil realidade?
Opressores que o povo prestigia!
Quem trabalha por tão baixa quantia
Sob o jugo da vil precariedade
Elogia o opressor na sociedade
E os milicos que o matam dia a dia!
Mercadores da fé usam do nome
Que é sagrado, ante um povo que mal come,
Pra fazer com que o mesmo se conforme.
Oprimidos serão sempre oprimidos
Se os algozes não forem combatidos,
Que o carrasco escravista nunca dorme!
Soneto ao amor ausente
Poeta Felipe Amaral
Foste a outra cidade por razão
De um emprego e eu não quis ser o empecilho.
Assenti, muito embora o coração
Discordasse, seguindo em outro trilho.
Longe, tudo mudou, pois a visão
Acostuma-se à falta e perde o brilho.
Demorei pra esquecer, mas à paixão
Abrandou, entoando outro estribilho.
Perguntava se havia sido amor.
Indagava o meu peito inda confuso.
Mas respostas não tinha a tais questões.
Noutro tempo, eu a vi, mas o vigor
Da paixão via ausente e não profuso.
Despedimo-nos sem mais emoções.
Soneto Peça de amor
Poeta Felipe Amaral
Sendo a vida uma grande encenação,
Fomos nós atuantes num cenário
De uma peça romântica e o plenário
Aplaudiu essa nossa atuação.
Tragicômico, em roteirização,
Foi o nosso romance legendário.
Rimos muito. Chorou-se o necessário.
Entretemos o público aldeão.
Mas as idas e vindas dessa peça
Reservaram-nos brigas e por essa
Razão tudo acabou se desgastando.
Nossa morte, no fim, veio no advento
Da escolha de um mútuo esquecimento
E do adeus, ante um público chorando.