LÁGRIMAS AO VENTO

À sombra do carrasco o pó se espalha

nos dentes de seu tétrico brinquedo

e escreve outro capítulo a batalha

sem novo vencedor, sem novo enredo.

Um golpe, um tombo, a ríspida navalha

assustam logo todo o passaredo:

as folhas se transformam em mortalha

no derradeiro embate do arvoredo.

O vento leva as lágrimas vertidas

por muitas anciãs desprotegidas

Enquanto desvanece, nua, a terra.

O ronco cessa, a rude mão descansa

e vaga na clareira a vista mansa

do jovem que conduz a motosserra.

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Com este soneto obtive Menção Honrosa no 9º Concurso Literário da AML – Academia Madureirense de Letras – Prêmio "Austregésilo de Athayde" 2020.