TRILHA XIII - RITMO IBÉRICO (ARTE MAIOR)

*BEM AVENTURADO*

Que seja bendita a mão que semeia...

Que Deus abençoe a terra nubente,

a chuva que desce, escorre e permeia

fazendo brotar a nova semente.

A planta que cresce, a espiga bem cheia,

a farta colheita e o céu que consente

a ação que transforma o trigo da ceia

no pão que sacia a fome da gente!...

E o homem prodígio em sua palhada

que ajuda um irmão que não colheu nada,

cultiva também o amor verdadeiro;

lhe seja bendito o lucro que tem

e Deus lhe permita a seara que vem,

a ceifa da messe e o farto celeiro.

*Edy Soares*

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*MEDOS CORTANTES*

Sozinho, persigo aqueles semblantes

repletos de alvura, alegres demais

que fogem de mim, acendem fanais

nas rotas da angústia, anseios distantes.

Percebo no céu olhares bailantes,

unidos no abraço incrível jamais

sentido depois das minhas brutais

jornadas de volta aos medos cortantes.

Pintando, teimoso, os meus universos,

enfrento esta noite ataques diversos

daquela ilusão ferrenha e levito.

Procuro sonhar um pouco e, portanto,

despejo este sal, as gotas do pranto,

no colo do amor ainda infinito.

*Jerson Brito*

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*A ILUSÃO*

Um dia, feliz, em plena viagem

Estava a voar no lindo romance,

Nas asas do amor o máximo alcance

E o meu coração, contente paisagem!

Ventura de anis, em doce mensagem,

Entregue do céu num breve relance,

Jamais percebi ser última chance

E as asas perdi, caindo em miragem.

Um susto infeliz no acorde da lira

Manchou a emoção e toda mentira

Tornou-se a canção, fazendo a invasão

Num quadro de giz, verdade vencida

Nas mãos da razão - algoz conhecida -,

Funesta sanção chamada ilusão!

*Ricardo Camacho*

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*O VOO DO ALÉM...*

O medo persiste e busco a partida,

estranho o recinto, o escuro perdura...

E durmo acordado, a voz omitida

Relembro o episódio, a queda e amargura

Saudades do afeto, abraços da vida,

agora a clausura, e longe da cura,

a lágrima desce... A dor reprimida,

a chance perdida, a lâmpada escura!

O mundo desiste e escuto o vazio,

e grito por dentro, o timbre sombrio,

ainda respiro, observo o desdém!

Relembro o passado, o céu que sorria,

e sinto a apatia, a noite vazia...

Enfim, o esperado, o avanço no além!

*Janete Sales Dany*

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*INDECISÃO*

Cruel parecer que tu me pediste

Roubou-me o sonhar e o meu pensamento,

Deixou-me o real sentido de triste

E deu ao meu ser, ausência de intento.

Não penso em ceder ao dedo que em riste,

Apenas me diz que neste momento

Irei abraçar um mal que persiste

Em vir me fazer de um vil instrumento.

Sentindo que estou talvez indeciso,

Pretendes que o amor se torne atração

Que venha trazer de volta um sorriso.

Mas creio que nem louvando a paixão

E tendo de ti a força do aviso,

Que eu possa tomar qualquer decisão.

*Plácido Amaral*

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*E AGORA, POESIA?*

E agora, José? Fazer poesia?

No meio da dor que zomba da gente.

Sozinho no escuro, o verso silente.

A luz apagou; não tem alegria.

Mil planos traçou, buscando utopia,

O riso não veio e, sempre presente,

Na estrada, encontrou tristeza somente.

O povo sumiu... Cadê companhia?

Se, bicho-do-mato, agora gritasse,

Na fúria do mar, talvez encontrasse,

A chave da porta e nela a guarida.

A doce palavra, agora se esconde...

Precisa correr, fugir, até onde?

Não há solução... Está sem saída...

*Fernando Belino*

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*O MISSIONÁRIO*

Preciso lançar com força esse arpão,

É a força que faz cumprir os intentos.

Preciso enxergar com olhos atentos,

Partir, sem apego, o mísero pão.

Preciso cumprir a minha missão,

Preciso calar e dar aos lamentos

Um gole de paz, nos lábios sedentos.

Preciso entender que existe uma unção.

Preciso avançar nas águas profundas,

Preciso jogar na terra as sementes,

Fazer com que as mãos se tornem fecundas.

Preciso subir a grande montanha,

Em passos de dor que trincam os dentes,

Por fim estourar, no topo, a champanha!

*Luciano Dídimo*

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*MUSA SONHADORA*

Abri a comporta, os versos saíram,

Caindo no chão de formas contidas,

assim vi nascer, sublimes, floridas,

as flores ao vento ali que surgiram.

Vos digo que são, sutis, coloridas,

vivendo em um sonho, e nunca sumiram,

perduro em pensar o quanto me inspiram,

transbordo o lirismo, as forças das vidas.

A musa feroz com estro fecundo...

gritou inundando as plagas do mundo,

com sua sonora em plena ascensão.

A musa que falo, em mim que palpita,

por vezes decanta a triste desdita...

pois sou o soneto, e sou criação.

*Douglas Alfonso*

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*ARREDIA*

Por onde caminha a nobre Poesia

Que amores cantava, embora dolente,

Saiu à sorrelfa ao ver pela frente

O medo estampado, em tensa agonia?

Almeja, ansiosa, o fim da fobia

Que o mundo abalou e o fez diferente,

Fazendo surgir um novo presente

No qual o futuro está na empatia?

Espera contida e busca um atalho,

Desvia da pedra, em meio ao cascalho,

Mas sempre tentando achar a saída...

Capaz de sanar os danos do mal.

Também, desejar feliz carnaval,

Sonetos compondo em Odes à vida.

*José R. Filho*

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*NO CÉU*

No céu avistei, tranquila, surgindo

Num doce bailar, divina e formosa,

Argêntea mulher, faceira, sorrindo

Polida de luz, vestida de rosa.

De encanto se fez, vistosa, aduzindo

Magia fatal, na tez preciosa;

No impulso chorei... No peito auferindo

Mormente paixão; sutil, gloriosa.

Bendisse e guardei a esplêndida imagem,

Louvando ao Senhor, a doce miragem;

Um 'sol que chegou, e em mim, refletiu

Etéreo sentir, ternura e prazer

Que evola no olor, ditoso querer;

O amor, que por ti, minh'alma assentiu.

*Aila Brito*

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*SERÁ SOLIDÃO?*

Será solidão a dor renascida,

que viça no ser cansado da espera,

e medra no chão do sonho, quimera,

na noite eternal que ao pranto convida?

No peito sentir imensa ferida,

também, suportar tristeza severa,

que não diminui, apenas prospera,

e faz padecer minh’alma esvaída.

Será solidão a extrema agonia,

carente de paz, de alguma utopia,

a insônia voraz, o corpo exaurido ?

Eu sei te dizer dos versos que escrevo

nas horas, enfim, carentes de enlevo,

saudosa demais do filho querido.

*Edir Pina de Barros*

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*EM MARCHA*

Os dias se vêm, os dias se vão

E fico a pensar nas lutas da vida...

Eu sigo o caminho: equânime lida,

Cumprindo com garra a dura missão.

Escrevo uma estrofe em minha canção:

Meu grito de guerra, em luta renhida...

E vou escutando o som da batida

Altiva e feroz do meu coração.

Na marcha em que estou com meus semelhantes

Pretendo alcançar conquistas marcantes:

A nossa vitória em flâmula acena.

De espírito leve e mente serena

Eu vou construindo a minha jornada

E não cessarei por nada. Por nada!

*Gilliard Santos*