Há rígidos grilhões em meu pescoço,

Há rígidos grilhões em meu pescoço,

que me roubam a fala todo dia.

Eu assim fui criança e assim sou moço —

um silente cativo à cobardia.

Pequeno, meu andar era insosso,

e minha tenra língua, fugidia.

De algo maior cresci sendo um esboço —

de algo menor eu sou alegoria.

Minha alma, quando vibra pela voz,

encontra no pescoço essa corrente,

ferindo minha carne antes da algoz —

pois volta para o estômago, doente,

deixando um rastro leso por feroz,

revel à vida e dela mais descrente.

29/9/2020

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 29/09/2020
Código do texto: T7074852
Classificação de conteúdo: seguro