Soneto à Fome

Eu, que muito chorava de hora em hora,

Porque julgava sofrer sendo amante,

Conheci a verdadeira dor perante

A fome que existe no mundo afora.

Diante dela, que tantos devora,

O amor revela-se algo tão distante,

Que cantá-lo parece irrelevante

Até a mim que nunca a sentira outrora.

Sobre o amor esqueça o que se foi dito,

Pois, caro amigo, diante da miséria

E da fome o amor não é tão bonito.

Amor parece apenas luxo, admito,

E hoje, faminto, insisto em repetir:

“É de pão, não de amor, que necessito!”.

Wedmo Mangueira – 11/10/2004