Tal para cual

“Eu sofro tanto! Meus exaustos dias

Não sei por que logo ao nascer manchou-os

De negra profecia um Deus irado.

Outros meu fado invejam… Que loucura!

Que valem as ridículas vaidades

De uma vida opulenta, os falsos mimos

De gente que não ama? Até o gênio,

Que Deus lançou-me à doentia fronte

Qual semente perdida num rochedo –

Tudo isso que vale, se padeço!?”

(ÁLVARES DE AZEVEDO)

Deparei-me esta manhã com um vagabundo.

Sob o incandescente sol do meio-dia,

Com o calor se incomodar não parecia

E, na sarjeta, dormia um sono profundo.

Cheguei mais perto de seu corpo magro e imundo,

E constatei que o pobre-diabo sorria –

Talvez com uns trocados se esbaldaria

E nada mais lhe importava neste mundo.

Invejei-lhe a rústica felicidade –

Com ele trocaria, de muito bom grado,

Os fúteis caprichos repletos de vaidade

A mim concedidos por quem nunca há me amado…

E ainda há quem cobice, em meio à sociedade,

Meus lauréis de poeta e desditoso fado…!

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 02/02/2021
Código do texto: T7174427
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