O SENTIMENTO

Como entender um sentimento que se esconde

no véu das dúvidas que envolvem a existência?

Que se reclui, a gesto casto, em paz, de um monge,

e, ao mesmo tempo, expõe-se nu, na desavença?

Jamais aceita, o sentimento, diferença

na fértil árvore de extensa e bela fronde

de seu reinado; e nada a vir do céu, que afronte

ou lhe ameace a tão pretensa permanência.

Porém avança, afoito, e adentra em tudo, o tempo;

bagunça lógicas, preceitos e importâncias;

antigos hábitos se tornam nostalgia.

E o sentimento, o amor, confuso desde sempre,

nessa peleja de certezas na inconstância,

entorna fel em sua íntima ambrosia.