BORBOLETAS BRANCAS (11): Cebola humana

Tantas camadas, tantas cascas tenho,

Ninguém percebe quem sou eu de fato.

Deixo pedaços da minha pele ao rato,

E é nos temperos da vida que venho.

Se tentas decifrar-me nesse ato,

Provoco lágrimas, te franzo o cenho.

Fecho teus olhos e de ti desdenho;

Trancada em mim, recuso teu contato.

Sou puro simulacro em meu catáfilo*,

Minha raiz* se mascara com o prato*,

Alma da terra, sabiamente tola.

Porém, se me levares no embalo,

E deglutires-me com colo* e talo*,

Despir-me-ei a ti, tal qual cebola.

Nota: *partes da cebola

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 18/03/2021
Reeditado em 18/03/2021
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