Abissal
De pouco me adianta um céu de luzes cheio,
A noite inteira, em brilho intenso, derramando,
Se minha Estrela-Guia, em triste bruxuleio,
Com tênue chama, vai, aos poucos, se apagando.
Se no clarão da Aurora, os pássaros cantando,
Nas cores do arrebol, esbanjam seu gorjeio,
De pouco vale, a mim, a imensa festa, quando
Me vejo sufocado em doloroso anseio.
De que me serve um céu de abril imaculado,
Na tarde, quase fria, em funda paz de outono
E a brisa que sugere amar e ser amado!
Por mais que a natureza emane exuberância,
Entre esta vida plena e meu pleno abandono,
Infelizmente, existe uma abissal distância.